IKEBANA
IKEBANA – por Mario Fernandes
Minha trajetória com as flores começou há 9 anos atrás e antes mesmo de fazer parte da escola de Ikebana de alguma forma os arranjos florais já me sensibilizavam. As vivencias nas quais pude participar sempre alavancaram transformações na minha forma de sentir e pensar e por isso hoje busco propagar esse encontro tão especial com as flores.
A relação do homem com a flor começou há milênios nos diversos grupos étnicos que foram surgindo na face da terra ao longo da evolução das diversas culturas, as flores sempre exerceram um magnetismo especial no olhar humano, diversas formas de utilização das flores como adornos sempre foram agregadas ao próprio corpo de homens e mulheres. Pinturas e desenhos do Egito antigo documentam esta relação íntima, na Índia os colares de flores naturais adornam os cônjuges a séculos e ao longo do tempo a interação das flores com o homem foi se expandindo. Desde tempos remotos as flores são oferecidas às Divindades em todos os cantos do mundo, se acreditava que elas possuíam um espírito, bem como outras formas da natureza. O respeito a vida espiritual das flores é um ponto crucial na arte floral Ikebana.
IKEBANA é uma palavra japonesa que, traduzindo, significa “dar vida as flores”, ou “vivificar as flores”, mas este sentido é insuficiente. Ikebana é muito mais do que dar vida as flores. É o encontro do ser projetado numa vivificação floral. Isto significa que, através da Ikebana, qualquer um que a execute começa a perceber, a curto prazo, sua própria limitação como pessoa e indivíduo. E na medida em que for expandindo a prática da Ikebana, irá detectando, em cada vivificação floral que fizer, a expressão legítima do seu estado espiritual ou psicológico. E com esta prática, como processo terapêutico, tornar-se-á possível eliminar do nosso corpo material ou espiritual os conflitos intra e endopsíquicos, os sentimentos reprimidos, os recalques, as angustias, os traumas do dia-a-dia, através da simples postura ao fazer ou elaborar a Ikebana. A principio parece difícil compreender estas colocações. No entanto com a prática vai se percebendo que tudo isso é simples, visto que a Ikebana estimula o lado abstrato e criativo do cérebro, dando repouso ao cérebro racional. (Prof. Toshiaki Saito, Titular de psicologia da Universidade Federal do Paraná).
A Ikebana surgiu na China, de forma despretensiosa sem técnicas elaboradas para arte floral, quando os sacerdotes ofereciam flores nos altares diante da imagem de Buda. No século VI chegou ao Japão, onde se desenvolveu como um tradicional CAMINHO japonês para a obtenção do auto-controle emocional, auto-expressão e iluminação espiritual.
O princípio básico da tradicional medicina oriental reside na manutenção e ativação da “sabedoria do corpo”. No Japão existe a expressão “aprender com o corpo”, isto é, aprimorar-se em algum “CAMINHO” através da experiência corporal. Sendo assim temos tradicionais “caminhos” no Japão: o teatro “NO”, o “KENDO” (caminho da espada), o” KYUDO” (caminho do arco e flecha), o “JUDO” (caminho da maciez), “CHADO” (caminho do chá), “SHODO” (caminho da caligrafia) e o “KADO” (caminho da flor). Autoria:Dr. Yujiro Ikemi, Revista Izunome, 1999.
O KADO Sanguetsu foi instituído como Academia de Ikebana no Japão, tendo como Patrono Meishu Sama, difundindo-se para outros países e chegando no Brasil em 1972. Outras escolas de Ikebana foram instituídas no Japão, com estilos próprios como o Ikenobo e o Saga apenas como exemplos. No estilo Sanguetsu, Meishu Sama conhecia o efeito que a pratica da Ikebana exercia sobre o desenvolvimento do cérebro humano. Sabemos que o cérebro funciona espontaneamente mas precisa ser ativado para que desenvolva a capacidade que lhe é inerente em toda sua plenitude, o que é de máxima importância para se viver bem neste mundo conturbado e em transição, onde necessitamos aflorar nossa criatividade e inteligência, e poder manifestar livre e amorosamente nossos sentimentos. O estilo Sanguetsu, é um treinamento ideal para o desenvolvimento do cérebro. Quando alguém interage ou admira a beleza de uma vivificação floral, forma-se dentro dele um universo de sentimentos e sensações de Verdade, de Bem e de Belo.
Por que o homem sente alegria ao fazer Ikebana? Porque esta arte é o fruto do trabalho conjunto do próprio homem e da Natureza, representada pela flor. Criar e combinar novas formas somente não é bastante para Arte, a verdadeira Arte é aquela que faz acordar as emoções legítimas do ser humano. (autoria: Prof. Teruaki Kitajima, Universidade de Tóquio). Por isso a Ikebana não existe apenas para satisfazer apenas a pessoa que a pratica, mas também, para alcançar o coração e o pensamento do maior número de pessoas possível. Sua prática deve resultar num movimento que faça nascer nas pessoas o amor pela flor, que representa a força vital e a beleza da vida.
Mario Fernandes.