A Semente da Verdade
A Semente da Verdade
O Imperador, já caminhando para a velhice, sentiu-se na necessidade de indicar e preparar aquele que seria o herdeiro do trono. Como não tinha filhos e nem parentes próximos, resolveu que escolheria o seu sucessor entre todas as crianças do reino, então as convocou para um encontro no palácio.
Entre elas estava o neto de um mestre jardineiro.
No dia marcado o menino dirigiu-se até o palácio, onde havia milhares de pequenos súditos. Ouviu então o Imperador dizer em tom forte e sereno:
– Crianças, preciso escolher entre vocês aquele que será o meu sucessor. Mas para isso lhes darei uma missão. Aquele que cumpri-la será o futuro imperador. Prestem atenção: cada um de vocês levará para casa uma semente que eu lhes darei. Cultivem-na em um vaso e cuidem dela. O trono, portanto, será daquele que me trouxer, daqui a um ano, a planta mais bonita.
Como o neto do jardineiro aprendeu o gosto pelas plantas, com certeza faria um ótimo trabalho. Preparou a terra com carinho, colocou a semente, regou, ofereceu a luz necessária, tudo como o avô havia lhe ensinado.
Porém, o tempo passava e por mais que menino se esforçasse, a semente não brotava. Fez tudo o que podia ao longo do ano, mas seus esforços não adiantaram.
O ano passou rápido para o menino e o dia marcado pelo Imperador chegou, mas sua semente não havia brotado. Ele estava tão envergonhado que não sentia nem mesmo vontade de comparecer ao encontro. Como poderia enfrentar as outras crianças, como encarar o Imperador? Triste e preocupado foi se aconselhar com o avô, que lhe disse:
– Meu querido neto, o que este velho tem para lhe dizer é que seja honesto. Vá até o Imperador e diga a verdade. Diga que sua dedicação foi grande, mas a semente infelizmente não brotou. Não se envergonhe, apenas explique o que você fez!
O menino, obediente ao avô, rumou para o palácio cheio de coragem. Entretanto, ao chegar lá, ficou ainda mais envergonhado, pois era a única criança que não levava consigo uma belíssima planta.
O imperador chamava as crianças uma a uma e examinava os vasos. Não sorria nem esboçava contentamento.
O neto do jardineiro ficava cada vez mais temeroso, pois se o Imperador não havia até agora aprovado aquelas plantas maravilhosas, o que não diria de seu vaso contendo apenas terra?
O menino foi ficando para trás e quando se deu conta, era o último da fila. Mas sua vez chegou e ele não poderia mais adiar o temido encontro com o Imperador.
– E você meu jovem, o que tem aí para mim?
O menino não pode conter as lágrimas. Com a cabeça baixa mostrou o vaso ao Imperador e disse:
– Senhor, sou neto de um grande jardineiro, aprendi com ele a cuidar das plantas e a respeitá-las, mas por mais que eu tenha me esforçado a semente não brotou. Meu avô ajudou também a pensar sobre o que lhe diria neste momento e optei por dizer a verdade, contar meu esforço e pedir-lhe perdão.
– Não se envergonhe criança, você fez o que pode.
Após dizer estas palavras o Imperador se levantou e olhando para multidão disse:
– Eis aqui aquele que prepararei para ser o seu governante. Eis aqui o meu sucessor!
As crianças e principalmente os pais que as acompanhavam entreolharam-se indignadas e antes que ousassem questionar sobre a escolha, o Imperador foi logo dizendo:
– Permitam-me explicar: eu havia queimado todas as sementes antes de entregá-las às crianças. Portanto, nenhuma delas germinaria. E entre todas as crianças que aqui estão, ele foi a única que plantou a semente da verdade!
“A Semente da Verdade” – conto folclórico oriental, recontado por Patrícia Engel Secco, Fundação Educar DPaschoal