Agradecimento ao participantes do retiro – Mãe

Postado em: junho 9th, 2018 por Lygia Franklin

Retiro 1

Mãe – esforço, incompreenssão e reconhecimento.

Viemos para um retiro, saímos do nosso dia a dia habitual num momento conturbado e muitas dificuldades do nosso país. Chegamos a pensar que talvez o retiro não acontecesse. Mas viemos e ele aconteceu. Trouxemos no peito alguns sentimentos: angústia, esperança, desejos de relaxar na natureza, ficar longe de alguns problemas do cotidiano, medos de ter que se expor diante de desconhecidos… e, aos poucos, algo foi acontecendo… algo muito especial…

Num lugar, uma antiga fazenda de café, onde senhores e escravos conviviam suas cruéis diferenças, ainda hoje podemos encontrar o que sobrou daqueles tempos sombrios. Fotos de negras e negros com seus elegantes trajes de domingo e com olhos embargados “enfeitam” as paredes da antiga senzala preservada nos porões do Marista. Quanta dor há nesse lindo lugar!

Mais tarde, no início do século passado, o café se transformaria em altares, livros e rigores de padres que buscavam uma paz interior. Aqui, neste lugar que hoje trouxemos nossas aflições para serem rebatizadas, jovens seminaristas, privados de suas intempestivas juventudes, viveram e morreram na busca de uma comunhão com Deus. Em cada recanto pudemos sentir a presença de Maria, a Maria dos Maristas. Então, talvez, fosse um lugar inspirador para falarmos de Mãe, para ressignificarmos nossa Maria Interior. Quanta dor há nesse lindo lugar!

Mas, como curar feridas emocionais tão profundas em um fim de semana? Aqui, o verbo curar será conjugado no gerúndio… curando… curando… curando…  O processo de cura é a própria cura. Mas, como curar feridas emocionais tão profundas? Usando uma fórmula, uma fórmula milagrosa e é isto que aconteceu ao longo desses dias, usamos a fórmula:

… andamos em meio as árvores, pássaros, estrelas… vimos imagens ancestrais que tocaram nossa memória celular… ouvimos uma história de rara beleza… com as mãos na terra esculpimos a mãe… dançamos dores e êxtases que nos latejavam o peito… silenciamos juntos… compartilhamos juntos… seguramos as mãos de quem não conhecíamos… olhamos nos olhos de quem estava à nossa frente… tocamos no coração de quem nos concedeu a graça da escuta… tivemos espaços privados… vivenciamos situações de confidência, confiança, compromisso e consciência… vimos pessoas comuns, que não são artistas profissionais, nos ofertarem verdadeiras obras de arte – na tela, na argila, no teatro, nas flores de cada vaso, em cada recanto… a fogueira nos acalentou antes do soninho justo da filha, do filho e da mãe que, em nós, busca uma compreensão redentora… ouvimos belas músicas… estudamos juntos… questionamos… construímos novas perguntas… e comemos juntos e demos boas gargalhadas…

Tudo isto com a fórmula mágica da cura que é:

 PERMITIR SENTIR E EXPRESSAR.  PERMITIR SENTIR, EXPRESSAR E TENTAR COMPREENDER OS PROCESSOS.

Eis aqui o segredo do “estar em cura ou se estar curando”. SENTIR, EXPRESSAR E COMPREENDER OS CAMINHOS.

Nossa! Que lindo é esse lugar de dor! Que lindo é esse lugar de transformações!

Lembramos aqui o cerne deste nosso retiro, mas desejamos também que você não o esqueça mais:

Eu quero me ver. Eu quero ser visto. Eu quero saber lidar com aquilo que vejo.

Eu quero me ver. Eu quero ser visto. Eu quero saber lidar com aquilo que vejo.

O segredo da fórmula? Fazer contato com o que se sente!

Aí percebemos que a mãe antes de ser mãe é uma mulher . Percebemos que o filho ou a filha, antes de serem filho ou filha, são homem e mulher também.

Percebemos que estamos todos em processo. Processo de que?

De nos tornarmos conscientes, de retornarmos ao Um, ao Todo, à Fonte.

Fortalecidos pela Egrégora de amorosa cura que nos acompanhou pelo fato de virmos ao retiro e que depois ainda foi reforçada ao saudarmos as Deusas-Mães e dançarmos o Rito das Dez Direções, formamos uma Mandala Sagrada para vivermos nossa Celebração. Emocionados, pudemos devolver a imagem da mãe que criamos e, junto com ela, a força da mãe interna destrutiva que residia em cada um de nós. Abrir mão até do que dói, às vezes, é difícil. Mas, essa devolução ao Corpo da Grande Mãe foi forte e doce porque todos sabíamos que, dessa maneira, Ela poderá nos inspirar a transformar toda essa nossa dor em adubo fértil, em vida que renasce, em nós e em nossas mães. Assim,  num derradeiro gesto, cada um ainda expressou para a sua mãe o que sentiu ser a necessidade da sua Alma.  Nossas vozes embalaram a devolução das nossas projeções:

     “Mãe, perdão pelos meus erros e obrigado por tudo.

      Eu te liberto de minhas projeções e te devolvo ao Ser Que É em você”.

No restaurante, mais leves, brindamos ao Amor com vinho, suco, com a taça do coração num almoço de domingo com a família da Alma, com batatas fritas e muitas risadas.  Bem, chegou a hora da partida. Como é difícil ir embora, como é difícil ficar quando estivemos juntos e unidos de uma maneira tão rara… Mas, viemos para retornar e voltamos com aquela estranha alegria, com a certeza de que podemos sempre deixar uma fresta, ou melhor, como descobrimos lá, uma fenda para o amor passar e ser vitorioso.

Quem compartilha coisas profundas cria união. Estamos unidos porque somos seres que lutam pelo Amor.

Agradecemos pela Presença de cada um dos participantes. Tudo só foi possível porque cada um de vocês estava lá conosco.

Com o nosso terno abraço,

Terra de Rudá