A Construção da Face – Lygia Franklin e Sergio Seixas
- A Construção da Face – Lygia Franklin e Sergio Seixas
Construir o rosto que o fará existir no mundo.
Identidade é uma ponte enraizada “no entre”,
– este lugar das passagens.
Esta casa desabitada que hospeda o Vazio.
Uma ponte de cordas que une dois longínquos e enormes desfiladeiros:
de um lado,
a mais carnal insegurança,
do outro,
uma arrogância olímpica.
A Face é composta de músculo, licor, éter e chama.
Da carne fresca, se impõe aquilo que do mundo se faz coisa,
do sumo suavíssimo, a verdade no sentir-se a si mesmo poros em chuva,
dos fótons felizes, a Inteligência Erótica da Compreensão
e do fogo que desescurece,
a Presença que habita.
Eis o Rosto daquele que merece o Nome.
O ego precisa crescer,
amadurecer para assumir a alma.
Elevar-se à condição de servo para realizar a Obra.
O Sujeito-Sem-Sujeito
é o Pilar do Mundo,
o fundamento em que o humano se reconhece,
o território possível onde os Embates se fazem Lei.
Semeia-se o ego para morrer-se grão e brotar Face.
O Sujeito-Sem-Sujeito
é a necessária construção de algo que jamais existirá,
a mágica relação entre o intangível e seu corpo.
Dar corpo àquilo que é Tempo.
Assentar em um endereço que a cada segundo se desloca
aparentemente errático
na direção de um Centro Regulador.
O Sujeito-Sem-Sujeito
é uma constituição temporária.
Como um Dardalvo
que traz em si a seta em voo como chegada
a um lugar que não existe,
nunca existiu e jamais existirá.
Então, o que está acima do possível interessa ao espírito.
Enraizado na observação,
ele também era os outros que o construíam momento.
Olhar o mundo na terceira pessoa nos recobra
a nossa natureza de Sujeitos Desdobrados,
este Eu-Chafariz que verte multidirecional,
enquanto irriga o solo único do Real.
A angústia do Nome só é superada pelo horror da sua falta.
A necessidade de Deus em Ser Amado
inventa um humano sequioso de seu Mysterium.
A necessidade do Homem em amar
inventa um Sagrado ávido de decifração.
O Cinzel Arquetípico
desculpe das interpretações,
o entendimento do Real.
Aquilo que É anterior ao Sujeito
O transpassa em imanência.
O Sujeito-Sem-Sujeito é o corpo imaterial
onde nossa singularidade se orienta.
É Molde Permeável ao diálogo com o Self.
O Sujeito-Sem-Sujeito precisa ser fortalecido
como as nuvens são nutridas pelo vento.
É então, o Perene da Impermanência
o Estável das Mutações.
Lembrar, Enxergar, Separar e Reunir
são os alicerces da Construção do Humano.
Sinceridade no Sentir,
Simplicidade no Fazer,
Profundidade no Buscar,
Disponibilidade no Servir.
O Cético Otimista confia enquanto checa.
A Segunda Adesão,
agora,
ao Ser que Nos É Morada,
dá-se,
quando das travessias cumpridas
até o âmago de seus limites.
Desejar é Amar a Obra do Criador.
Quando se sustenta o que se deseja,
sem se identificar com aquilo que se desejou,
experencia-se uma libido que não teme a sua vocação.
Nenhuma emoção em si gera apego,
quando traz em seu íntimo
a vitalidade do Sentimento.
Cuidado com as técnicas,
elas podem nos levar todo o tempo.
I – Ter-se o que se necessita para viver no mundo
e algo mais para a satisfação do desejo pessoal.
+
II – Educar-se na Religação Ego-Self.
+
III – Estar a serviço da Obra de se Ser O Que Se É,
como Educador no Ato do Exemplo.
=
A Dinâmica de se Estar no Mundo sem se Ser do Mundo.
Ser Vida com o Manto do Mundo.
Mas ainda há muito mais a desaprender.
O outro é o parteiro de nossas mortes.
Modelar o jarro que iremos quebrar.
Somente uma radicalidade estruturante
para dar vida ao morto que inventou o medo dos mundos.
O Sujeito-Sem-Sujeito é uma grota repleta de cosmos
irrigando-se aos outros em sua simples manifestação.
O esplendor da face inteira transborda da Presença.
A construção de um corpo que expresse o lugar da evolução
em que nos encontramos.
A certeza de que este mesmo corpo é inexistente enquanto Realidade Última
mas que se faz necessária sua presença como interface
entre a Alma dos Tempos,
que nos habita,
e uma identidade operacional no mundo,
que nos faça existir em efêmera eternidade,
intervindo em um mundo fusional que nos convida à dispersão do Um.
Este corpo chamado Sujeito-Sem-Sujeito
nos irá induzir à realização de uma Geografia da Insubstância,
na Impermanência da Identidade.
Eis o milagre daquilo que maturou:
ocupar um espaço diferenciado,
apesar de não se ter o que ocupar
nem espaço que acolha,
muito menos,
diferença que seja real.
O convívio no tênue vácuo da desexistência
nos infunde uma materialidade porosa ao magnífico Nada
que nos presentifica Instante.
Não se pode identificar-se com a identidade.
Ela flutua mutante,
enraizada no Absoluto, e faz do Instante,
o momento presente da eternidade.
A aderência na identidade nos apodrece outro.
A Construção da Face
é a desconstrução dos disfarces.
Eu,
escultura de mundos
exíguos corpos inúmeros
no abraço do entorno me distraio Nome.
Jamais existirei compacto
e fatiado de humanidades que me desovam corpo,
quando me despedir,
das interseções que me inventam realidades,
aspergirei Vida em outros distantes chamados Eu.