A NATUREZA IRREAL DO ¨EU¨

Postado em: outubro 27th, 2017 por Rosa Valgode

A NATUREZA IRREAL DO ¨EU¨ –  Caderno Teórico – Retiro A Copa dos Mundos.
O sofrimento humano é fundado na identificação com o “eu” e seus fetiches, ou seja, seus objetos de desejo. Aqui, para efeito didático, nomearemos o “eu” de ego. Construímos uma identidade dissociada da relação com a alma e tornamos esse “eu ficcional” uma realidade idealizada, perigosa à liberdade do indivíduo e incapaz do usufruto real do Agora. Esse “eu” imaginário vive no passado e no futuro. Quando perdemos algo que desejamos muito, uma espécie de aniquilamento nos toma. A equação a ser posta é: se o “eu” não for um território identitário constituído na relação com o Ser, ainda que esta identidade seja tão flexível quanto estruturada, maus presságios nos rondam. Tornaremo-nos um fantoche das expectativas do mundo. O “eu” é como um barco que serve à travessia; ao chegarmos à outra margem precisamos deixá-lo para trás, sob pena de se não o fizermos, ficarmos pesadíssimos, vestindo uma “roupa de navio”. É bom recordar que ter uma experiência de Êxtase de Pertencimento só é possível quando o “eu” estruturado e enraizado no Ser se deixa diluir no entorno (cosmos, vida, Deus…), ou seja, sua natureza insubstante, porosa e impermanente retorna ao seu lugar de origem – ao Nada, ao Nada Pleno. Portanto, todo nosso movimento deverá ser na direção de amadurecermos esse “eu”, que já é a incorporação de todos os inúmeros “eus” que nos habitam, para depois entregá-lo à Vida, como um rito sacrificial e orgástico. Entendendo como amadurecimento, a integração psicológica dos conteúdos subjetivos provenientes da relação com os acontecimentos à volta. Ter-se, então, uma identidade para oferecê-la à Vida como a semente se oferta ao solo é tarefa de uma vida vivida plenamente.