É DIFÍCIL! – por Lygia Franklin
O que acontece é que ainda não há um número suficientemente grande de pessoas envolvidas com o processo de se tornar inteiro, ele não é popular. Penso que esta falta de ibope decorre de dois fatores: um individual e outro coletivo. O individual é conseqüência de termos a tendência imatura para procurarmos saídas que driblem a auto-observação e a conseqüente responsabilidade sobre a própria existência, pois num primeiro momento isto costuma ferir a autoimagem bonita que desejamos conservar, além de nos solicitar bastante trabalho. Somos um tanto vaidosos e temos medo de não sermos admirados se não formos ótimos. Portanto, há dificuldade de encarar os nossos “defeitos”, justamente aquilo que no fundo nos atrapalha a inteireza.
O fator coletivo resulta do somatório dos individuais e vai constituindo um conjunto de idéias e valores que formatam o Sistema. Faz muito tempo que o Sistema elegeu o sucesso material e social (assim como o poder decorrente deles) como o alvo mais importante a ser atingido na vida, o sentido da vida. Dá-se um ciclo vicioso no qual as pessoas alienadas de si alimentam o Sistema e ele influencia as pessoas. Como podemos observar a partir da gênese das idéias coletivas, ele só poderá ser mudado a partir das transformações individuais. Para piorar, o Sistema acaba sendo algo impessoal o que nos ajuda a responsabilizá-lo sem nos sentirmos culpados.
Eis a dificuldade: a ideia de que todo este assunto é pesado e chato, mas este é o nosso humano desafio.