Medo

Postado em: julho 2nd, 2014 por Sérgio Seixas

 

Definição, Origem, Natureza e Aspectos do Medo

Reflexões que a Terra de Rudá empreendeu ao longo do processo de preparar um trabalho sobre o medo.

 

Definição: Sentimento perturbador que nos acomete quando algo que foge ao nosso controle nos atravessa o caminho.

O instinto de autopreservação é inato, portanto, anterior ao medo, que só ganha existência a partir de um acontecimento que não soubemos lidar e a decorrente ameaça de termos que encarar o mesmo tema deste acontecimento em uma nova ocasião.

Origem: Ancestral ou Atual

Ancestral: Pulsão residente em memórias profundas, em camadas ocultas da psyche. Podemos identificá-la através da Carta Astrológica. Alguns temas deste medo são comuns aos membros de uma família. Isto significa que além de possuir raízes onde o consciente não alcança, também indica que laços parentais foram constituídos em torno de uma demanda sentimental comum.

Ex.: Medo de perder tudo o que se conseguiu (há um grande medo da sobrevivência sem uma razão aparente); medo de ter os olhos furados por estiletes (inexplicável ao consciente); medo de morrer asfixiado por estrangulamento (igualmente inexplicável)…

Atual: Pulsão identificada com uma raiz mais periférica, onde a memória consciente tem algum alcance e registro.

Ex.: Medo de perder os dados do HD, uma vez que não se fez o back-up; medo de contrair dengue no verão do Rio de Janeiro…

Todos os medos, se bem trabalhados psicologicamente, poderão ser integrados à psyche como energia vital, como potência erótica de afirmação, caso contrário, habitarão nossa subjetividade, como um galho ladrão de um arbusto, que lhe rouba a energia até comprometer a frutificação.

Natureza: É um organismo reticente a assertividade, calcado em experiências frustradas, onde o insuficiente conhecimento de si não dá conta de situações que fogem ao controle. O medo não tem existência própria. Ele depende de assuntos que, em nós, ainda se encontram em estado primitivo e que não sabemos lidar, como também de fracassos posturais onde não se aprendeu como manejar determinados acontecimentos. Não existe o medo a priori, ele é sempre decorrência de algo que nos aconteceu anteriormente, ainda que não tenhamos lembrança do fato que o originou.

Aspectos:

Real, Imaginário e Oportunista.

Real: Ameaça concreta a algumas de nossas integridades: física, emocional, intelectual…

Ex.: de se ser assaltado em uma rua deserta e perigosa; de se separar recém casada com um neném de meses; de ter que submeter suas idéias criativas a uma instituição conservadora, castradora de novos talentos…

Imaginário: Construção fabulosa que se origina em uma memória inconsciente ou em um desejo oportunista de se ter um determinado ganho.

Ex.: de morrer a míngua, debaixo da ponte, como indigente; de ter relações sexuais por medo de contrair AIDS, quando na verdade se é inapetente sexual…

Oportunista: É aquele que propicia um ganho secundário. Trata-se de um sentimento estratégico que visa um determinado objetivo.

Ex.: medo de dirigir automóvel alegando que o trânsito é muito violento (alguém vai dirigir pra mim); de prestar um exame, passar e assumir responsabilidades ou não passar e ser visto como um incapaz (alguém vai ter que me bancar); de magoar o outro e por isso, não se posicionar (medo de não ser amado e, por conseguinte, viver uma rejeição)…

Fundamento Psicológico do Medo:

Medo é um sintoma da relação Sujeito – Objeto.

Sujeito de Si: Indivíduo mais consciente de sua natureza (eu pessoal) e essência (self , eu onipresente).

Objeto do Outro: Pessoa menos consciente de sua natureza e essência.

+ Sujeito de Si – Objeto do Outro = Medos maduros, potentes.

Ex.: medo das conseqüências de realizar meu “sonho de vida” (anseio da alma). Será que dou conta daquilo que minha alma me pede?

– Sujeito de Si + Objeto do Outro = Medos imaturos, impotentes

Ex.: medo de sonhar o meu sonho de vida. Não tenho sonhos, logo não tenho porque lutar por algo que desconheço.

Em síntese:

Sujeito de Si= Pleroma + Alma + eu pessoal

(Todo)      (Ser)      (ego)

Objeto do Outro= eu pessoal (ego) ávido de potência estável (Alma+Pleroma) projetada no outro (mundo).

Estado Evolutivo do Medo:

Medo Imaturo e Medo Maduro.

Medo Imaturo: Quando não sabendo lidar com suas demandas de integração ficamos enredados em sua teia e não evoluímos na direção do Ser.

Ex.: Uma relação de intimidade é muito trabalhosa. Prefiro ficar só. Tenho medo de expor partes minhas que não sei lidar (meu lado “feio”) e acabar sendo rejeitado.

Medo Maduro: Quando estamos conscientes de sua existência e nos disponibilizamos a trabalhá-lo com todas as ferramentas que dispomos, sejam elas subjetivas (psicológicas) ou objetivas (atitudes reguladas pelo bom senso).

Ex.: Tenho medo que a relação seja abortada quando nossa história ainda está longe de acabar. Então vou me trabalhar e lutar por ela.

O Medo Legendado:

. medo de morrer: Não sei lidar com o desconhecido. Não tenho o controle.

. de ficar doente: Como é difícil olhar para onde me desviei, para onde me esqueci.

. de sentir dor: Não sei se sou forte para exercer a superação. O caminho exige coragem, foco, determinação e superação.

. de ficar só: Não sou suficientemente interessante para que alguém me escolha e assuma a relação ou não acredito no meu valor, preciso de alguém que me valorize e proteja.

. de perder tudo: Será que tenho “pegada” para preservar o que conquistei e que de fato é meu?

. de não conseguir: Acho que não tenho recursos suficientes para dar conta de obter sucesso ou mesmo fôlego. Desisto com facilidade quando a dificuldade é grande.

. que aconteça algo ruim com a família: Me construí na família e não, com a família. Sinto-me fusionado. Não sei quem sou. Logo, sou a família. Se um sofrimento acontece com algum familiar, vivo uma dor como se fosse uma amputação de meu corpo. Sofrer por alguém que se ama é natural, mas lembre-se: você não é este sofrimento. A identificação é uma das origens do sofrimento. Não o retenha a mais do que o trabalho que ela, a dor, veio exercer. A dor e o sofrimento têm um tempo de operação. Deixar entrar. Deixar sair. Acolha-os.

. de não se realizar:  Passar uma vida sentado no banco do carona para não correr o risco de fracassar.

. de se realizar: Ter que assumir responsabilidades decorrentes de meus objetivos e não ter a menor certeza de que se está pronto ou achar que vai dar muito trabalho.

 

Oito Etapas Alquímicas para devolver o Medo à sua Fonte Numinal.

 

I-        Eu tenho medo de …

II-       Eu me deixo possuir por esse medo de …

III-     Eu sou esse medo de …

IV-      Eu estou identificado com o medo de …

V-        Eu estranho esse medo de …

VI-      Eu escolho trabalhar esse medo para integrá-lo à pysche …

VII-    Eu não sou esse medo de…

VIII-   Eu Sou.

 

   Todos nós, querendo ou não, temos um encontro marcado com essas oito etapas de transmutação. Quando se é consciente este processo flui naturalmente. Quando não se é, todo o caminho é atravancado pelo desejo de ser feliz ao mesmo tempo em que se foge de certas provações necessárias ao encontro com a autorealização, sob o pretexto de temer as conseqüências desse enfrentamento. No entanto, mais cedo ou mais tarde temos um encontro com nossa autorealização, pois é isso que o Plano engendra através do Ser Consciente.