Rito de Pertencimento ou Rito das Dez Direções
Rito de Pertencimento ou Rito das Dez Direções
Os sistemas de poder não gostam de pessoas livres, reflexivas, criativas que se permitem amar desavergonhadamente. O medo da vida lhes interessa. A insegurança quanto os seus talentos e uma identidade monolítica, sem pluralidades, faz da pessoa, presa fácil dos interesses de corporações lucricidas – instituições onde o lucro é arma de matar sonhos. Pessoas sem alma, objetos
da gula do mercado econômico, político, religioso alimentam acordos macabros entre a miséria humana e a luxúria sem dharma.
Nosso tempo é de transição. Transição entre a mentira de quase todos e a verdade de poucos. Estamos sendo “empurrados” energeticamente para vivermos o fim do tempo do desejo de poder sobre o outro, seja no território pessoal, seja no coletivo, isto é, para começarmos a realizar a Era da Potência do Amor e suas maravilhosas consequências em substituição às infindáveis eras de dominação e dominados. Então, visão clara, pé no chão e persistência se fazem muito necessários porque, como sabemos, é comum que o moribundo se levante nos estertores e tente resistir à sua morte. Cada pessoa que ouviu o chamado dos Senhores do Tempo tem como responsabilidade a coerência entre suas palavras e gestos.
As religiões teriam a função de religar o ser humano ao Todo como sabemos. Os primeiros atos religiosos dos seres humanos estavam vinculados às forças da natureza num misto de alumbramento e medo. Os homens percebiam muito bem que fazíamos parte da Natureza e de um Todo maior com o qual necessitavam dialogar para viver – os ritos começaram a ser criados como uma conversa com o sagrado. A observação do natural era uma necessidade para a sobrevivência física, integridade anímica e organização social. Dessa forma, celebrações intuídas foram criadas para nos unirem, fortalecerem e alinharem uns com os outros e com o Todo através das forças naturais e seus ciclos.
Com o tempo algumas religiões, por motivos não tão espirituais assim, foram se afastando da natureza mais e
mais como se fôssemos entes separados dela, o que fortaleceu e autorizou a ideia de que a podíamos dominar e explorar. Para isso foram, inclusive, associando as forças naturais ao mal e ao diabo. Uma das vertentes mais expressivamente afastadas da natureza são as três religiões oriundas do tronco abraâmico – judaica, cristã e muçulmana.Todas elas acabaram tendo uma enorme influência na psique ocidental consciente e inconsciente, nos seus aspectos luminosos, mas também nos escuros. Não é difícil se perceber ainda que a desconexão em relação à verdadeira natureza e origem de qualquer ser o vulnerabiliza. Assim, ao longo dos séculos nos fragilizamos e nos tornamos mais manipuláveis, desmemoriados da nossa identidade real em Pertencimento, o que influencia a relação pessoal e coletiva que estabelecemos com a vida.
– Pra quê um Rito do Pertencimento hoje?
Para nos tornarmos pessoas inteiras e potentes necessitamos, então, recuperar a intimidade com a Natureza, pois somos parte integrante dela. Não é preciso abrir mão nem da ciência, nem da tecnologia para isso. O novo tempo a ser vivido é o da inclusão, da soma e síntese. Essa recuperação precisa acontecer não só através da sua contemplação e observação estética, que já é muito inspiradora, mas através de uma relação consciente e mais profunda com as forças que constituem o natural para resgatarmos a memória do Todo em nós, do Pertencimento Cósmico ao Aqui e Agora. Esse alinhamento com essas forças é a espinha dorsal da Espiritualidade da Terra de Rudá porque ele nos oferece uma experiência curadora
para nossos medos de solidão, abandono, impotência diante da vida e tantos outros que nos interditam a realização e o Amor. O Rito de Pertencimento é uma experiência energética de cura, portanto é uma Medicina disponível para qualquer pessoa. Nosso desejo é compartilhá-la mais e mais.
– A Estrutura do Rito
O Rito contempla a conexão com dez direções: Pleroma, Terra, Homem, Leste, Norte, Oeste, Sul, Dentro, Fora e Nenhuma Direção. Nesse rito fazemos conexão com as quatro direções terrestres conhecidas como pontos cardeais e mais seis direções que completam a conexão com o Todo Cósmico, ele pode ser realizado individualmente ou em grupo. Quando nos referimos à sacerdotisa ou sacerdote, estamos falando de qualquer pessoa imbuída da vontade de viver, durante o rito, a função de ligação entre as forças das direções e os participantes dessa celebração, não há necessidade de nenhuma formação religiosa para isso. Aliás, o Rito de Pertencimento pode ser vivido por pessoas de qualquer religião.
As Dez Direções
I– Pleroma – céu – o alto – a Potência divina.
II-Terra – chão – Gaya – a Potência Planetária.
III – Homem – centro energético – Potência do Humano Pontífice.
IV – Leste – a Potência do Brotar.
V – Norte – a Potência do Crescer.
VI – Oeste – a Potência do Morrer.
VII – Sul – a Potência do Pulsar.
VIII – Dentro – a Potência do Interior das coisas.
IX – Fora – a Potência do Exterior das coisas.
X – Nenhuma Direção – a Potência do Todo.
As Quatro Direções – Leste, Norte, Oeste e Sul.
Há uma relação entre as quatro direções terrestres e o aparente caminho do Sol no céu do ponto de vista geocêntrico. Além de nos orientarem espacialmente, as direções também nos orientam temporalmente, já que nos
indicam o nascer e o morrer dos dias e das noites e com isso, também criamos as horas, meses, anos. Além disso, essas direções guardam segredos energéticos preciosos – sabemos que são pontos energéticos específicos ligados às forças arquetípicas da Vida. Por isso cada direção é caracterizada por uma qualidade de energia que se expressa de diferentes maneiras e elas todas se relacionam entre si por uma questão vibratória. Manifestam-se, cada uma, como um elemento da natureza, através de uma cor, através de uma estação do ano, de uma parte do corpo, através de diferentes plantas e ervas e até através de uma hora do dia, por exemplo. Assim, vamos conversar sobre essas quatro direções e depois sobre as outras seis que completam o nosso rito.
I – Leste (Oriente – nascer do Sol)
.Primavera, ar, ventos, verde, fígado, brotações, nascer, renovação, criança, vitalidade, acasalamento, início das coisas, seis horas da manhã.
.Ervas – flores, boldo, carqueja, manjericão.
.Palavra mestra – brotar.
Palavra mestra – brotar.
II – Norte (no hemisfério sul é o lugar do calor)
.Verão, fogo, vermelho, coração, ápice, o fruto maduro, a exuberância, a intensidade, o jovem que conquista o mundo, o apogeu da manifestação, meio-dia.
.Ervas – alecrim, cúrcuma, gengibre, canela.
.Palavra mestra – crescer.
III – Oeste (ocidente – por do sol)
.Outono, terra, cristais,marrom, pulmão, declínio, ancestrais, velhice, despedidas, as mortes, dezoito horas.
. Ervas – folhas secas, assa-peixe, agrião, guaco, carvão.
.Palavra mestra – morrer.
IV – Sul (no hemisfério sul é o lugar do frio)
.Inverno, água, preto, rim, silêncio, reflexão, espera para um novo ciclo, a semente que pulsa debaixo da terra, meia-noite.
.Ervas – mirra,cavalinha, salsinha, feijões, nozes, castanhas.
.Palavra mestra – pulsar.
– E, na prática?Quando realizamos o Rito do Pertencimento?
Quando percebemos a necessidade de fortalecer nossa conexão com o Todo ou no momento em que alguma cura, seja ela, física ou da alma se faça necessária.
-Como?
1 – Marcar no chão as quatro direções – Leste, Norte, Oeste e Sul, além do Centro. Tudo deve ser feito ritualisticamente, numa atitude cerimonial, isto é, colocando-se Presença e energia intencional. Em cada direção arrumar os elementos que lhe correspondem como um pequeno altar, por exemplo:
Leste – pano de cor verde, um incenso aceso (representa o elemento Ar) e um arranjo com flores, boldo, carqueja,
manjericão (em quantidades que permitam a cada participante escolher pelo menos um ramo de cada erva para si).
2 – Fazer o mesmo com as outras três direções com os elementos correspondentes a cada uma. No Centro colocar um pano branco, um caldeirão ou tacho com água aquecida sobre um fogareiro e uma colher de pau.
3 – O rito se inicia através de uma breve reflexão sobre a energia das direções, sobre o Todo e o Pertencimento. Entra-se no território sagrado e todos se dirigem para o Leste que pode estar guardado por uma sacerdotisa ou sacerdote usando as cores dessa direção e que recebe os participantes, relembra as qualidades energéticas da direção e depois saúda os Senhores Guardiões do Leste com uma invocação específica à eles. Após esse gesto, lê a invocação para os participantes e solicita que façam contato com a energia dessa direção na sua vida por uns momentos com os olhos fechados. Por fim, o grupo se volta para o Leste e a invocação é proferida por todos juntos mais uma vez. Logo, a invocação é realizada por três vezes. A seguir, cada pessoa é convidada, pela sacerdotisa ou sacerdote, a escolher as ervas que lhe atraem depois de apresentá-las pelo nome. Quando todos acabaram, serão encaminhados para o Norte levando suas ervas do Leste. Assim, as direções Norte, Oeste e Sul serão experimentadas da mesma forma – a cada direção uma invocação própria é feita e as ervas específicas são recolhidas pelos participantes.
As Invocações
. Leste
– Que eu me permita brotar e crescer sob inspiração do Natural que Sou.
.Norte
– Que eu me permita colher e partilhar tudo aquilo que me tornei.
.Oeste
– Que eu compreenda e usufrua todas as mortes que me constituem.
.Sul
– Que eu possa perceber as inúmeras sementes que pulsam em meu Ser.
.Centro
Agora todos se reúnem no Centro ao redor do caldeirão. Um sacerdote ou sacerdotiza orienta com uma reflexão sobre o Centro:
– “Aqui as coisas se reúnem e se integram. Aqui nos conectamos com a Fonte.
Fechem os olhos, permaneçam em silêncio…Cada um faça contato com o que você deseja curar na sua vida…Faça contato com o espírito das ervas e sementes que estão nas suas mãos… Traga-os para junto do seu coração e peça ao Espírito dessas ervas e sementes para ajudarem a curar o que for necessário em você e na sua vida…Abram os olhos”.
Cada um, com calma, se aproximará do caldeirão e dirá em voz alta:
“Eu,…(nome da pessoa)…, oferendo a minha dor, as minhas dificuldades e os meus descaminhos à força integradora do Centro. Agradeço a tudo que vivi”.
A pessoa coloca, então, todas as suas ervas e sementes dentro do caldeirão e os mexe na água por uns momentos num gesto de integração.
Cada participante realizará esse percurso.
Por fim:
– A Dança e o Canto do Mantra das Dez Direções
Todos são orientados a dançarem e cantarem juntos o Mantra das Dez Direções várias vezes – o número de vezes que o(a) condutor(a) sentir necessário. Ao finalizar, todos se sentam em torno do caldeirão e continua-se cantando o Mantra das Dez Direções até se chegar ao silêncio, silêncio que será vivido como uma meditação. No dia seguinte, o elixir de ervas poderá ser compartilhado pelas pessoas em frascos ou poderá ser oferecido à natureza junto às raízes de uma árvore, ou ainda, dentro de um rio num ritual final.
Mantra das Dez Direções
Pleroma, Terra, Homem…
Brotar, Crescer, Morrer, Pulsar…
Dentro, Fora…Ahaha….
Dança e Gestos (enquanto canta o mantra)
. Pleroma – eleve os braços para o céu;
. Terra – abaixe-se e toque o chão;
. Homem – coloque uma mão sobre a outra entre o seu umbigo e a sua púbis;
. Brotar – volte-se para o Leste com as mãos elevadas para essa direção;
. Crescer – o mesmo para o Norte;
. Morrer – o mesmo para o Oeste;
. Pulsar – o mesmo para o Sul;
. Dentro – gire o corpo todo para dentro;
. Fora – gire o corpo todo para fora;
. Ahaha – gire o corpo todo uma volta inteira com os braços abertos.
– link para vídeo com o Mantra das Dez Direções:
O Rito de Pertencimento restabelece a relação com as direções celestes e terrestres, com a Potência Divina, com a consciência humana de nos exercermos pontes entre Céu- Terra, com Cronos e Kairós, com o poder de cura dos elementos e ervas da natureza, com o Xamã que cada um traz dentro de si, com a força das palavras, do som, da música e do movimento dos corpos, com a Energia Livre
que somos capazes de gerar e que se torna disponível para ser vivida como Amor para não esquecermos mais de quem Somos.
Que todos possam recuperar a Experiência do Pertencimento ao Todo.
Que ninguém se sinta abandonado.
Que todos possamos Amar,
Terra de Rudá.