Rito de Pertencimento ou Rito das Dez Direções

Postado em: abril 23rd, 2019 por Rosa Valgode

Rito de Pertencimento ou Rito das Dez Direções


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Os sistemas de poder não gostam de pessoas livres, reflexivas, criativas que se permitem amar desavergonhadamente. O medo da vida lhes interessa. A insegurança quanto os seus talentos e uma identidade monolítica, sem pluralidades, faz da pessoa, presa fácil dos interesses de corporações lucricidas – instituições onde o lucro é arma de matar sonhos. Pessoas sem alma, objetos

da gula do mercado econômico, político, religioso alimentam acordos macabros entre a miséria humana e a luxúria sem dharma.

Nosso tempo é de transição. Transição entre a mentira de quase todos e a verdade de poucos. Estamos sendo “empurrados” energeticamente para vivermos o fim do tempo do desejo de poder sobre o outro, seja no território pessoal, seja no coletivo, isto é, para começarmos a realizar a Era da Potência do Amor e suas maravilhosas consequências em substituição às infindáveis eras de dominação e dominados. Então, visão clara, pé no chão e persistência se fazem muito necessários porque, como sabemos, é comum que o moribundo se levante nos estertores e tente resistir à sua morte. Cada pessoa que ouviu o chamado dos Senhores do Tempo tem como responsabilidade a coerência entre suas palavras e gestos.

As religiões teriam a função de religar o ser humano ao Todo como sabemos. Os primeiros atos religiosos dos seres humanos estavam vinculados às forças da natureza num misto de alumbramento e medo. Os homens percebiam muito bem que fazíamos parte da Natureza e de um Todo maior com o qual necessitavam dialogar para viver – os ritos começaram a ser criados como uma conversa com o sagrado. A observação do natural era uma necessidade para a sobrevivência física, integridade anímica e organização social. Dessa forma, celebrações intuídas foram criadas para nos unirem, fortalecerem e alinharem uns com os outros e com o Todo através das forças naturais e seus ciclos.

Com o tempo algumas religiões, por motivos não tão espirituais assim, foram se afastando da natureza mais e

mais como se fôssemos entes separados dela, o que fortaleceu e autorizou a ideia de que a podíamos dominar e explorar. Para isso foram, inclusive, associando as forças naturais ao mal e ao diabo. Uma das vertentes mais expressivamente afastadas da natureza são as três religiões oriundas do tronco abraâmico – judaica, cristã e muçulmana.Todas elas acabaram tendo uma enorme influência na psique ocidental consciente e inconsciente, nos seus aspectos luminosos, mas também nos escuros. Não é difícil se perceber ainda que a desconexão em relação à verdadeira natureza e origem de qualquer ser o vulnerabiliza. Assim, ao longo dos séculos nos fragilizamos e nos tornamos mais manipuláveis, desmemoriados da nossa identidade real em Pertencimento, o que influencia a relação pessoal e coletiva que estabelecemos com a vida.

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– Pra quê um Rito do Pertencimento hoje?

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Para nos tornarmos pessoas inteiras e potentes necessitamos, então, recuperar a intimidade com a Natureza, pois somos parte integrante dela. Não é preciso abrir mão nem da ciência, nem da tecnologia para isso. O novo tempo a ser vivido é o da inclusão, da soma e síntese. Essa recuperação precisa acontecer não só através da sua contemplação e observação estética, que já é muito inspiradora, mas através de uma relação consciente e mais profunda com as forças que constituem o natural para resgatarmos a memória do Todo em nós, do Pertencimento Cósmico ao Aqui e Agora. Esse alinhamento com essas forças é a espinha dorsal da Espiritualidade da Terra de Rudá porque ele nos oferece uma experiência curadora

para nossos medos de solidão, abandono, impotência diante da vida e tantos outros que nos interditam a realização e o Amor. O Rito de Pertencimento é uma experiência energética de cura, portanto é uma Medicina disponível para qualquer pessoa. Nosso desejo é compartilhá-la mais e mais.

– A Estrutura do Rito

O Rito contempla a conexão com dez direções: Pleroma, Terra, Homem, Leste, Norte, Oeste, Sul, Dentro, Fora e Nenhuma Direção. Nesse rito fazemos conexão com as quatro direções terrestres conhecidas como pontos cardeais e mais seis direções que completam a conexão com o Todo Cósmico, ele pode ser realizado individualmente ou em grupo. Quando nos referimos à sacerdotisa ou sacerdote, estamos falando de qualquer pessoa imbuída da vontade de viver, durante o rito, a função de ligação entre as forças das direções e os participantes dessa celebração, não há necessidade de nenhuma formação religiosa para isso. Aliás, o Rito de Pertencimento pode ser vivido por pessoas de qualquer religião.

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 As Dez Direções

IPleroma – céu – o alto – a Potência divina.

II-Terra – chão – Gaya – a Potência Planetária.

III – Homem – centro energético – Potência do Humano Pontífice.

IV – Leste – a Potência do Brotar.

V – Norte – a Potência do Crescer.

VI – Oeste – a Potência do Morrer.

VII – Sul – a Potência do Pulsar.

VIII – Dentro – a Potência do Interior das coisas.

IX – Fora – a Potência do Exterior das coisas.

X – Nenhuma Direção – a Potência do Todo.

As Quatro Direções – Leste, Norte, Oeste e Sul.

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Há uma relação entre as quatro direções terrestres e o aparente caminho do Sol no céu do ponto de vista geocêntrico. Além de nos orientarem espacialmente, as direções também nos orientam temporalmente, já que nos

indicam o nascer e o morrer dos dias e das noites e com isso, também criamos as horas, meses, anos. Além disso, essas direções guardam segredos energéticos preciosos – sabemos que são pontos energéticos específicos ligados às forças arquetípicas da Vida. Por isso cada direção é caracterizada por uma qualidade de energia que se expressa de diferentes maneiras e elas todas se relacionam entre si por uma questão vibratória. Manifestam-se, cada uma, como um elemento da natureza, através de uma cor, através de uma estação do ano, de uma parte do corpo, através de diferentes plantas e ervas e até através de uma hora do dia, por exemplo. Assim, vamos conversar sobre essas quatro direções e depois sobre as outras seis que completam o nosso rito.

I – Leste (Oriente – nascer do Sol)

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.Primavera, ar, ventos, verde, fígado, brotações, nascer, renovação, criança, vitalidade, acasalamento, início das coisas, seis horas da manhã.

.Ervas – flores, boldo, carqueja, manjericão.

.Palavra mestra – brotar.

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Palavra mestra – brotar.

 

II – Norte (no hemisfério sul é o lugar do calor)

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.Verão, fogo, vermelho, coração, ápice, o fruto maduro, a exuberância, a intensidade, o jovem que conquista o mundo, o apogeu da manifestação, meio-dia.

.Ervas – alecrim, cúrcuma, gengibre, canela.

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.Palavra mestra – crescer.

III – Oeste (ocidente – por do sol)

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.Outono, terra, cristais,marrom, pulmão, declínio, ancestrais, velhice, despedidas, as mortes, dezoito horas.

. Ervas – folhas secas, assa-peixe, agrião, guaco, carvão.

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.Palavra mestra – morrer.

IV – Sul (no hemisfério sul é o lugar do frio)

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.Inverno, água, preto, rim, silêncio, reflexão, espera para um novo ciclo, a semente que pulsa debaixo da terra, meia-noite.

.Ervas – mirra,cavalinha, salsinha, feijões, nozes, castanhas.

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.Palavra mestra – pulsar.

– E, na prática?Quando realizamos o Rito do Pertencimento?

Quando percebemos a necessidade de fortalecer nossa conexão com o Todo ou no momento em que alguma cura, seja ela, física ou da alma se faça necessária.

-Como?

 

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1 – Marcar no chão as quatro direções – Leste, Norte, Oeste e Sul, além do Centro. Tudo deve ser feito ritualisticamente, numa atitude cerimonial, isto é, colocando-se Presença e energia intencional. Em cada direção arrumar os elementos que lhe correspondem como um pequeno altar, por exemplo:

Leste – pano de cor verde, um incenso aceso (representa o elemento Ar) e um arranjo com flores, boldo, carqueja,

manjericão (em quantidades que permitam a cada participante escolher pelo menos um ramo de cada erva para si).

2 – Fazer o mesmo com as outras três direções com os elementos correspondentes a cada uma. No Centro colocar um pano branco, um caldeirão ou tacho com água aquecida sobre um fogareiro e uma colher de pau.

3 – O rito se inicia através de uma breve reflexão sobre a energia das direções, sobre o Todo e o Pertencimento. Entra-se no território sagrado e todos se dirigem para o Leste que pode estar guardado por uma sacerdotisa ou sacerdote usando as cores dessa direção e que recebe os participantes, relembra as qualidades energéticas da direção e depois saúda os Senhores Guardiões do Leste com uma invocação específica à eles. Após esse gesto, lê a invocação para os participantes e solicita que façam contato com a energia dessa direção na sua vida por uns momentos com os olhos fechados. Por fim, o grupo se volta para o Leste e a invocação é proferida por todos juntos mais uma vez. Logo, a invocação é realizada por três vezes. A seguir, cada pessoa é convidada, pela sacerdotisa ou sacerdote, a escolher as ervas que lhe atraem depois de apresentá-las pelo nome. Quando todos acabaram, serão encaminhados para o Norte levando suas ervas do Leste. Assim, as direções Norte, Oeste e Sul serão experimentadas da mesma forma – a cada direção uma invocação própria é feita e as ervas específicas são recolhidas pelos participantes.

As Invocações

. Leste

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– Que eu me permita brotar e crescer sob inspiração do Natural que Sou.

 

.Norte

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– Que eu me permita colher e partilhar tudo aquilo que me tornei.

.Oeste

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– Que eu compreenda e usufrua todas as mortes que me constituem.

.Sul

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– Que eu possa perceber as inúmeras sementes que pulsam em meu Ser.

.Centro

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Agora todos se reúnem no Centro ao redor do caldeirão. Um sacerdote ou sacerdotiza orienta com uma reflexão sobre o Centro:

– “Aqui as coisas se reúnem e se integram. Aqui nos conectamos com a Fonte.

Fechem os olhos, permaneçam em silêncio…Cada um faça contato com o que você deseja curar na sua vida…Faça contato com o espírito das ervas e sementes que estão nas suas mãos… Traga-os para junto do seu coração e peça ao Espírito dessas ervas e sementes para ajudarem a curar o que for necessário em você e na sua vida…Abram os olhos”.

Cada um, com calma, se aproximará do caldeirão e dirá em voz alta:

“Eu,…(nome da pessoa)…, oferendo a minha dor, as minhas dificuldades e os meus descaminhos à força integradora do Centro. Agradeço a tudo que vivi”.

A pessoa coloca, então, todas as suas ervas e sementes dentro do caldeirão e os mexe na água por uns momentos num gesto de integração.

Cada participante realizará esse percurso.

Por fim:

– A Dança e o Canto do Mantra das Dez Direções

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Todos são orientados a dançarem e cantarem juntos o Mantra das Dez Direções várias vezes – o número de vezes que o(a) condutor(a) sentir necessário. Ao finalizar, todos se sentam em torno do caldeirão e continua-se cantando o Mantra das Dez Direções até se chegar ao silêncio, silêncio que será vivido como uma meditação. No dia seguinte, o elixir de ervas poderá ser compartilhado pelas pessoas em frascos ou poderá ser oferecido à natureza junto às raízes de uma árvore, ou ainda, dentro de um rio num ritual final.

Mantra das Dez Direções

Pleroma, Terra, Homem…

Brotar, Crescer, Morrer, Pulsar…

Dentro, Fora…Ahaha….

Dança e Gestos (enquanto canta o mantra)

. Pleroma – eleve os braços para o céu;

. Terra – abaixe-se e toque o chão;

. Homem – coloque uma mão sobre a outra entre o seu umbigo e a sua púbis;

. Brotar – volte-se para o Leste com as mãos elevadas para essa direção;

. Crescer – o mesmo para o Norte;

. Morrer – o mesmo para o Oeste;

. Pulsar – o mesmo para o Sul;

. Dentro – gire o corpo todo para dentro;

. Fora – gire o corpo todo para fora;

. Ahaha – gire o corpo todo uma volta inteira com os braços abertos.

– link para vídeo com o Mantra das Dez Direções:

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O Rito de Pertencimento restabelece a relação com as direções celestes e terrestres, com a Potência Divina, com a consciência humana de nos exercermos pontes entre Céu- Terra, com Cronos e Kairós, com o poder de cura dos elementos e ervas da natureza, com o Xamã que cada um traz dentro de si, com a força das palavras, do som, da música e do movimento dos corpos, com a Energia Livre

que somos capazes de gerar e que se torna disponível para ser vivida como Amor para não esquecermos mais de quem Somos.

Que todos possam recuperar a Experiência do Pertencimento ao Todo.

Que ninguém se sinta abandonado.

Que todos possamos Amar,

Terra de Rudá.