SISTEMA – POR LYGIA FRANKLIN
SISTEMA
Na falta de um nome melhor vamos denominar de Sistema a parte organizada da humanidade que determina a maneira dominante de se viver – idéias, valores, etc. Esta parte é agenciada por uma engrenagem impessoal, fantasmagórica, pois não podemos enxergá-la. No entanto, ela só existe porque é a representação objetiva do que conseguimos, enquanto toda humanidade, realizar até agora em termos de desenvolvimento de Consciência Coletiva. Um grupo de pessoas em todo o mundo: líderes, organizações diversas inclusive a mídia, expressam o grau da nossa Consciência Coletiva e abrem passagem para um código comportamental bem delineado que define o que é normal e por isso, não só o que é aceitável, porém valorizado, admirado e desejável. Hoje somos caracterizados por um “espírito” capitalista, consumista, materialista, individualista, racionalista, pró-ativo, pseudo-democrático, corrompido politicamente, veloz, imediatista, superficial e extrovertido. Enfim, podemos encontrar se formos sinceros, muitos adjetivos pouco “glamourosos” apesar de uma série de conquistas e aspectos bastante interessantes também. O mundo tem ficado mais feio e sujo.
A impessoalidade do Sistema lhe confere autonomia e um senso de impotência e irresponsabilidade nos indivíduos frente ao que acontece no cotidiano do coletivo. Somos então, críticos indignados, mas de bastidores, de mesa de bar. No mínimo, a nossa própria falta de consciência de Si engrossa o caldo de tantos conteúdos sombrios que vão ser expressos pelo Sistema. Um Hitler, por exemplo, foi a manifestação da sombra coletiva da humanidade naquele momento. Se os conteúdos de Hitler (complexo de inferioridade raivoso e inconsciente) não existissem dentro de um número significativo de pessoas naquela época, ele não teria conquistado o poder como conquistou. É terrível pensar nisso, mas é verdade. O que ocorreu foi que um número enorme de pessoas se identificou com ele. O que também impressiona é que uma observação mais atenta das pessoas que exerceram algum poder naquele regime ou em qualquer outra situação terrível no mundo (revolução comunista na Rússia e China, etc), revela que elas tinham uma vida pessoal e familiar aparentemente normal e respeitável. Não eram pessoas com hábitos estranhos nem muito menos monstruosos. Logo, a inconsciência de Si e a obediência ao Sistema podem ser algo perigoso demais. Podemos estar sob o duplo domínio: da nossa própria sombra e a da coletividade (da qual fazemos parte). Torna-se um funesto ciclo vicioso de retroalimentação. Assim, ser reflexivo e atento sobre si e sobre o que o Sistema é, pode nos salvar e nos dar condições para não agirmos como manada em nome de uma “normalidade” que de normal, na verdade, não tem nada. O comum não é necessariamente o normal.
O Sistema jamais vai facilitar quem quer que seja na afirmação da sua diferenciação. Manadas são mais facilmente conduzidas para onde o poder dominante quer. A saída é tornar-se sujeito da própria existência (autor) e pagar o preço por isso. O Sistema rapidamente, inclusive, absorve valores que o ameaçam, numa atitude de hipocrisia tão comum que consegue ludibriar um grande número de pessoas. É só observamos como os bancos, os supermercados, os laboratórios produtores de remédios e muitos outros fazem suas propagandas, colocando-os a serviço de valores humanos, amorosos e ecológicos louváveis. É um circo de horrores. Assim, quem vai se rebelar frente a tão nobres intenções? A saída é o olhar desperto, a determinação, a paciência da cabra ao subir a montanha (símbolo do signo de Capricórnio) e, muitas vezes, a solidão de não se sentir compreendido, de não corresponder às expectativas do em torno, de ir em frente apesar de certo medo de não conseguir para poder conquistar as próprias idéias e conceitos: a real liberdade e realização. Mas, uma coisa é tão certa quanto eu estar sentada escrevendo aqui e agora com meus cães Samba, Kiki e Viola por perto: as leis do mundo (mercado, sucesso, etc.) não são mais poderosas do que as Leis do Universo. Uma destas Leis se manifesta da seguinte maneira: quando alguém faz um investimento genuíno na sua integração, o mundo se submete à realização desta pessoa, as leis mundanas habituais não vigoram para ela, são subvertidas exatamente porque são menores. O Sistema investe para que acreditemos no contrário, isto é, que a lógica do mundo é “A Verdade” – única e possível. Não acredite! Convencidos disto nos adaptamos à violência contra os nossos sonhos e contra os chamados da Alma, contra a nossa Essência verdadeira – desistimos. Vamos ter que nos conformar com aquela alegriazinha momentânea que o dinheiro, um porre, uma piada ou um entretenimento qualquer pode nos oferecer enquanto a Alma silenciosamente sangra sua seiva. Não aceite este pacto horroroso, seja um revolucionário do coração, guerreiro ou guerreira do bom combate. A indignação e a raiva podem ser sagradas para nos acordar deste estado de coma.