E A MULHER, QUEM É? – Com Sergio Seixas

Postado em: maio 16th, 2021 por Rosa Valgode

E a mulher?! Quem é ela? – A mulher é a guardiã da subjetividade, a grota que aninha afetos e ardências inimagináveis.

E raivas ancestrais… – Sim, raivas ancestrais. Foram alguns milênios de ressentimentos pela maneira como ela foi tratada.

E por que você acha que isso se deu? – Por ignorância e medo. O masculino não se construiu a partir de uma compreensão profunda do feminino. A mulher é um mistério para a sua cabeça mais racional.

Mistério?! É… Um mistério que deveria ser degustado e não, usado. Alguém que traz em seu corpo fendas, cavernas e o mais puro leite é alguém que podemos chamar de natureza.

Então você acha que predar a natureza é um derivativo de predar o feminino? Claro. Nosso planeta é feminino, é a mãe, a mulher e a outra.

Como assim? É mãe quando a Terra nos dá todo o alimento necessário à vida. É mulher, quando seus rios, oceanos, florestas e cumes nos excitam ao Gozo.

E por que o nosso planeta também é a outra? – Por que no fundo não somos daqui. Somos filhos do Cosmos, a Terra é um lindo pouso, como a amante que sabemos que a teremos por apenas uma noite.

Interessante… Preda-se a Terra como se preda a mulher… Isso faz sentido. – Claro.

Mas insisto, por que esse tratamento tão desqualificador com o feminino? – Poderia começar dizendo que essa desqualificação começa pelo próprio feminino quando ignora sua real natureza e acaba por se colocar passível de ser objeto, mas diria também, que o homem tem medo da mulher. Via de regra temos medo daquilo que desconhecemos. A mulher é as entranhas do Mistério, as vísceras do oculto, a seiva da Noite, por isso exerce enorme atração sobre o homem. Há um desejo inconsciente de decifração que esbarra em sua ignorância de abordagem e acaba por, estabanadamente, desqualificar o feminino. Esta é a raiva que o homem tem do segredo que é a mulher.

Segredo?! – Tanto o feminino quanto o masculino são segredos numinais de Deus. Só que pra mulher é mais fácil viver este segredo e o masculino necessita dominá-lo e pô-lo sob sua tutela.

Daí tanta raiva que sentimos? – Sim, raiva, ressentimento, desejo de vingança…

Tudo isso, então, por ignorância e medo? – Ignorância que o homem tem da natureza do feminino e como abordá-lo e medo de ser dragado por esse mistério que desconhece chamado mulher.

Ser dragado! O homem tem medo de ser dragado pela mulher? – Sim claro. Sua inteligência racional e sua força física tentam compensar sua ignorância emocional. Em tese a mulher é mais inteligente emocionalmente.

Você diz em tese, não é?! – Sim. Essa inteligência emocional da mulher seria plenamente inata e disponível não tivesse ela se perdido.

Qual foi a perdição da mulher? – Ter-se identificado com a versão que o homem acuado fez do feminino.

Que versão você se refere? – A de que toda a mulher é carente, histérica, vítima de emocionalismos, caótica…

Mas isso tem alguma verdade, não é mesmo? – Passa a ter uma certa verdade na medida em que a mulher, por autodesconhecimento de sua real natureza acaba por se identificar com essa construção, essa invenção perversa de um masculino órfão de si.

Então isso é uma construção? – Claro, ou você acha que o feminino é essa coisa patética que muitos homens insistem em afirmar?! Isso é medo de serem dragados por forças que ele desconhece.

Parece que tudo então acaba no mesmo lugar: a necessidade de nos autoconhecermos, tanto homens como mulheres? – Agora você tocou no ponto. A ignorância é mãe do medo e avó do desrespeito.

Entendi. Só temos, então, uma coisa a fazer: Autoconhecermo-nos. – Isso, do contrário viveremos a guerra dos sexos, ou a apatia submissa de um para com o outro ou optaremos por ficarmos sós.  Isso será a vitória da ignorância sobre o Amor que é a única razão pela qual estamos aqui – Reaprender a Amar