Retiro Mãe – Algumas Pulsões Relacionais

Postado em: maio 6th, 2022 por Rosa Valgode

Algumas Pulsões Relacionais

1-       Ausência – Faltam-lhe, à mãe, os recursos nutricionais. Entende-se por recursos nutricionais: alimento, afeto, digestão emocional, receptividade, empatia ao outro, iniciação aos mistérios da alma, confiança no Plano. Um feminino estéril não consegue acessar os mananciais de sua própria natureza e camufla sua impotência em cotidianos profissionais exaustivos, paixões carenciais por homens que a roubam de sua cria, em delegar os filhos aos avós… Enfim, este feminino desnutrido encontrará um repertório vasto de ações que “justifiquem” sua ausência. E o filho(a), por sua vez, para se proteger e não fazer contato com a doída situação, rejeita a mãe numa tentativa de esconder de si a rejeição sofrida por aquela que deveria amá-lo. “Por que eu não mereço o amor de minha mãe, a sua presença? Eu rejeito a rejeição”.

2-      Competição – Na natureza, o filho(a) traz uma força imanente de superação de seus pais. A luta se dá quando a mãe, não compreendendo esta lei natural, ameaçada de ser baipassada, se insurge contra a cria na intenção de se manter no poder, de se manter no controle da relação. O desejo de devoração nasce da tentativa de cortar o “mal” pela raiz, ou seja, se é legitima a demanda psíquica do novo ir além do velho e se esse velho não se atualizou psicologicamente, não evoluiu espiritualmente, a luta involutiva se instaura com uma espécie de anti-mãe a insuflar atos de castração, fruto de seu medo de deixar livre o caminho para que seu filho(a) cresça espontaneamente e com sua cooperação. Para esta mãe insegura, o crescimento de seu filho soará como abandono e isso ela não poderá aceitar, será uma profunda ingratidão a qual caberá ao filho(a) a sentença de uma culpa eterna. Muitas vezes esse quadro se manifesta não só por interdições claras, mas por desqualificações críticas constantes ao filho(a), as suas escolhas na vida e de suas parcerias afetivas. O filho(a) responderá com agressividade ou dependência emocional, ou ambas, num ciclo de alternâncias de desejo de independência e culpa.

3-   Amor e Ódio – Desejo de corresponder às expectativas daquela que lhe deu a vida versus o desejo de “matá-la” para libertar-se do sequestro psicológico o qual a mãe tenta lhe impor. Tendo a mãe como uma espécie de deusa que gerou a sua vida, ao filho, não sobrará outra opção senão, no momento certo, quebrar essa estátua que tanto lhe pesa a existência num processo difícil e doloroso que quase sempre necessita de grande apoio psicológico. Quanto à mãe, se amar parece o único caminho que a natureza lhe coloca à frente, odiar o próprio filho encontraria uma suposta justificativa no fato dessa mulher, em não ter se tornado autora de sua própria vida, indignar-se em ter que ser referência à esta criança que dia após dia acaba por expô-la a uma condição de um “nada operante”. Lembrando que gestações que não foram desejadas e que continuaram sendo experimentadas pela mãe como um peso, um impedimento para viver a sua individualidade, são um fardo e, por conseguinte, motivo de sentimentos difíceis de rejeição.

 

 

4-  Santidade – A extrema bondade dessa santa mãe gera uma impotência na diferenciação do filho(a) tornando-o reativo, até mesmo uma espécie de detetive, ou seja, alguém que procura provas de algum delito de sua excelsa genitora como também o contrário, podendo torná-lo submisso a magnificência dessa mãe incorrompível. A pressão e o controle subliminar da mãe através de sua “perfeição” e consequente rigidez geram uma culpa nesse impotente filho(a) que se apequena a cada investida de sua amada algoz. Alguns filhos, quando muito culpados por seus atos, pode endeusar a mãe, dessa forma, serão “filhos de uma santa que amam muito e certamente, esse amor lhes assegura que não são tão maus assim”.

5-  Indiferença – O tamanho do “problema-mãe” é de tal ordem que, sem ferramentas psicológicas para lidar com as questões advindas dessa relação e como um escudo protetor, o filho(a) atuará com o personagem do “tudo bem, não adianta esquentar a cabeça, está tudo certo” e levará a vida como se nada houvesse. Aos olhos do mundo este filho(a) parecerá resolvido, mas em sua psyche um monstro se alimenta e chegará o tempo em que esse conflito, guardado a sete chaves, arrebentará a porta sob a forma de estados emocionais aparentemente incompreensíveis. O tapete não é o melhor lugar para se guardar demandas da alma. Debaixo da frieza há um vulcão cuja erupção, a qualquer momento, pode eclodir. A indiferença é uma armadura que pretende esconder uma usina amorosa que perdeu seu dharma.

 

6-  Amor e desenvolvimento em reciprocidade – Quando maternidade e filiação são um campo de descobertas mútuas em honesta manifestação. Este estado demanda discernimento, consciência, trabalho e constância. Ao longo desse processo um prazer inominável inundará esta profunda relação de amor.